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A fitoquímica brasileira é maravilhosa, a farmacopéia nem tanto!

Óleos essenciais e outros extratos provenientes de plantas são utilizados a muito tempo e o receio do uso de plantas no tratamento de doenças devido a dificuldade no controle de dosagens de princípios ativos tem me intrigado. A percepção de que não há evidências da eficiência e segurança dos produtos naturais é facilmente rebatida quando o que encontramos na verdade é uma profusão de artigos científicos publicados anualmente suportando justamente a eficiência de produtos naturais para o combate de diversar doenças. Muitos destes artigos são feitos em nossas universidades públicas, e portanto são de domínio público. É fácil verificar isso, acesse o site: www.dominiopublico.gov.br, cadastre-se e faça uma busca na base de teses e dissertações, que basicamente são os produtos gerados pelo trabalho árduo de milhares de estudantes brasileiros financiados com bolsas públicas de pesquisa. Exemplo: a pesquisa pelo termo "melaleuca" que é um tipo de óleo essencial neste banco retorna 11 resultados, dentro deles:
O trabalho foi financiado pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), e trata justamente disso: "Efeito inibitório de óleos essenciais sobre o crescimento de bactérias e fungos". Teve apenas 264 acessos desde qua a dissertação deu lugar ao título de mestre ao seu autor. Esse é um de milhares de artigos, teses e disertações financiados com dinheiro público e que mostram efetivamente o uso de plantas no combate de patógenos. Vivemos no país com a maior riqueza fitoquímica do mundo, gastamos milhões de reais em pesquisa científica, principalmente na forma de financiamento de pesquisas em universidades, porém nossa farmacopéia tem um capítulo voltado a fitoterápicos que eu considero um descaso com o povo e o dinheiro que ele fornece para essas pesquisas. Pasmem existem apenas 105 fitoterápicos na farmacopéia, muito? Químio-Terápicos (princípios ativos de medicamentos éticos, similares e genéricos) são 599. No caso das plantas mais da metade da lista de fitoterápicos é proveniente da flora exótica (de outros países), mas como assim? Não somos os donos das florestas no mundo? Pois é, preferimos importar os insumos prontos e apenas misturar com amido ou outros incipientes, comprimir ou processar em outras formas bacanas e fáceis de administrar e... Exportar nossas riquezas e empregos. Mas nós já não pagamos para pesquisar milhares de plantas? Na forma de bolsas e subsidios de pesquisa? Sim pagamos, mas na maioria das vezes esses trabalhos só servem para uma coisa, fornecer um titulo acadêmico ao seu autor e aumentos de salários aos seus orientadores...Aplicação prática? É só abrir a farmacopéia e verás...
Fitoterápicos: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33832/259143/Plantas+medicinais+Pronto.pdf/1b7220eb-a371-4ad4-932c-365732a9c1b8
Insumos Farmoquímicos: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33832/259143/IFA+e+ESP+Pronto.pdf/1d16f9e9-affc-495b-bb8f-6806c2cef0fe Enquanto isso temos um dos maiores déficits na nossa balança comercial justamente neste ponto: "Produtos farmacêuticos são um dos itens mais importados pelo Brasil e acumulam sucessivos déficits na balança comercial brasileira. Nos primeiros quatro meses de 2017, o país adquiriu no mercado internacional U$S 2,12 bilhões em medicamentos. As exportações, de U$S 377,5 milhões, não foram suficientes para conter o saldo negativo de U$S 1,75 bilhão, no período - o terceiro item com maior déficit comercial até abril último, abaixo somente de máquinas e aparelhos elétricos e produtos químicos orgânicos, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), responsável pelas estatísticas de comércio exterior." (https://www.interfarma.org.br/noticias/1672 consultado em 23/08/2020). Um dos entraves no uso de plantas nativas é a exigência do licenciamento ambiental, explico: Para plantar colher e processar plantas exóticas no país, como por exemplo o Eucalipto, a pimenta, a soja e assim por diante, basta comprar mudas ou sementes, boa disposição para o trabalho e um pouco de sorte com o clima. Vais plantar, colher e vender sem maiores problemas. Mas se plantar uma roça de plantas nativas, o problema é grande, não pode cortar, não pode vender sem licenciamento, não pode trocar de cultura de uma época para a outra, não pode...Se fizer será provavelmente denunciado por crime ambiental. Coisas da nossa legislação. Não vejo uma mudança breve e se não podemos usar o que é nativo, o desmatamento serve como válvula de escape. Arranca do chão o que não conhecemos pois nossas pesquisas não chegam na ponta da cadeia, ficam nas gavetas, e vamos trabalhar com o que podemos plantar, colher e vender: Soja, milho, algodão e todas as outras plantas que, não me entendam mal, são fantásticas para humanidade, mas não são nativas. E dalhe importar remédios. 
Autores: Patrícia Bortoluzzi e Rodolfo Bortoluzzi.

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